quarta-feira, 19 de julho de 2017

Crítica - sobre o Monólogo Cantante ANDOR DE COISAS RARAS




Trata-se de um "monólogo cantante". De canto não-acompanhado. Ou, ainda, de teatro-canto. Dito assim, dá pra desconfiar. Pode ser uma fria, pensarão os que não gostam de arriscar.

Pois bem: quem não arriscou não petiscou. Numa Ciro vai além da imaginação. O seu Andor de Coisas Raras, em que se desenha ora como deusa, ora como paciente comum na condição humana, reúne pérolas da MPB e fragmentos de James Joyce (Ulysses), João Cabral de Melo Neto (A Palo Seco) e Guimarães Rosa (Grande Sertão: Veredas, um dos cem maiores livros do século).

O espetáculo é surpreendente. Numa Ciro, além de atriz, é contralto com três oitavas de extensão. E se especializou no canto sem acompanhamento instrumental. A sua voz é o andor em que desfilam Circuladô de Fulô, de Caetano e Haroldo de Campos, Béradêro, de Chico César, Maria Ninguém, de Carlos Lyra; boleros emocionantes; e, com letras dela mesma, Replicante (One More Kiss, Dear), de Vangelis, e Libertango, de Piazzolla. Outras delícia, faladas, cantadas, coreografadas: Como São Lindos os Chineses, de Péricles Cavalcante, que a censura militar tomou por exaltação do comunismo e proibiu; o surreal Hipopótamo Tartamudo, de Bráulio Tavares; e Como é Duro Ser Estátua, de Erasmo Carlos, que ela tece com fios de uma comicidade apenas sugerida.

Por onde tem andado Numa desde que, há 16 anos, estreou no Bar Visual, de Campina Grande? Por aqui e por ali, como paraibana volátil. Agora pousou no Rio, a convite de Gabriel Villela, que dirige o Teatro Glória. Tomara que não suma outra vez, nesse mercado ingrato que nem reconhece os melhores. 

Palavra do Crítico: Numa Ciro sabe escolher textos e músicas, escreve impecáveis versões e dá a tudo, como cantora, atriz e letrista, o toque personalizado do seu múltiplo talento. O espetáculo é tão cativante que, quando termina, apetece pedir bis. (A.B)




Camarim  - Teatro Glória

Momento inesquecível:

NEY MATOGROSSO
FLAVIOLA 
CLÁUDIO OLIVOTTO (DIRETOR DO ESPETÁCULO)



















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