domingo, 1 de novembro de 2015

PARCERIAS

ZÉ MIGUEL WISNIK





Rua da Saudade



Letra de Numa Ciro
Música de   Zé Miguel Wisnik 
             




Recife, PE



Lisboa
Rua onde morou o poeta Ary dos Santos
no número 23




Saudade é o nome da rua
Onde eu te vejo passar
Enganada pelo fado...
Um dia ali fui morar.



Venero deusas vadias.
Sem ti, enlouquecerão.
Saudade mata! meus dias,
quero viver de paixão.
Saudade fez moradia
ao rés e aos pés do meu chão.



Saudade é o nome da rua
Onde eu te vejo passar
Enganada pelo fado
Um dia ali fui morar



Eu trago deuses em guerra.
Sem ti, não quero sentir.

Saudade mata! quem dera
saber que estás quase a vir.
Saudade fez da quimera
uma razão de existir.


Saudade é o nome da rua
onde eu te vejo passar.
Enganada pelo fado,
um dia ali fui morar...


Falado:


Se o fado matasse a saudade
da rua onde eu nasci
Correria sem demora aos fados
onde eu te quis




Zé Miguel Wisnik






JOÃO DONATO







Um Baile

Música: João Donato
Letra:   Numa Ciro 


Esperando eu vou
Esperar quem vem
Quem me disse “Eu vou
Te encontrar meu bem”.

GENE KELLY
Cantando na chuva


No esperar tem som
A pausa é musical
Mudo o compasso improviso
Jazz no carnaval

O Baile está divertido
Já ensaio uns passinhos
Estou Muito à Vontade
A esperar meu benzinho




Esperando danço
É bom imaginar
Ter você no balanço
E poder te abraçar



Um bolero não dá
Pra dançar sem você
Tango então nem pensar
Só se for pas-de-deux



Esperando o meu par
Pra dançar Pas-de-deux
Já dancei mui solito
Rock and roll Iê Iê Iê

Pra dançar à vontade
Bem de bem de pertinho
Pra pedir com os olhos
Nem que seja um beijinho

Tango Rumba y Mambo
Samba Reggae Baião
El Son Salsa Calipso
Chá Chá Chá no salão





Esperando eu vou
Aonde você vai
Na cadência eu brinco
Nesse vai não vai

 Esperando ando
Sustenido eu vou
Improviso um bemol
Atrás do meu amor

Vem ao baile me ver
Eu te espero porque
Eu ensino bailar
tu ensinas viver

Pas-de-deux, deux, deux
Pas-pas-pas-deux-deux-deux

Quero te ver
Quero dançar

Vem vem vem
vem vem vem

Pas-de-deux-deux-deux-deux
Deux-deux-deux-pas-pas-pas




Tango
Mariano Otero
Pintor argentino contemporâneo


GABI BUARQUE





NUMAS QUEBRADAS


Letra de Numa Ciro
Música de Gabi Buarque





Prova

Se um homem atravessasse o paraíso
em um sonho
e lhe dessem uma flor como prova que havia estado ali,
e se ao despertar encontrasse essa flor em sua mão...
então o quê ?

S. T. Coleridge



 

Numas Quebradas encontrei você
Era sol
Era mar
Maculelê

Numas Quebradas você me viu nu
Era só
Era rei
Maracatu

Que maravilha esta vida amorosa
Brincante encantada nas dobras do ser
Quem faz da vida essa coisa engraçada
Sambando nos cacos sabe o que é viver

Lá nas Quebradas o funk ensinou
Vai no passo
Cima abaixo
Brincar de amor

Lá nas Quebradas o Rap mandou
Era a Cor
Era o amor
Rimando a Dor

Foi nas Quebradas que o sonho acabou
Lá nas Quebradas Zumbi acordou
Contou o sonho que teve acordado
E ninguém foi o mesmo
Depois que escutou

Lá nas Quebradas você me despiu
De cima a baixo o meu corpo era um rio
Não tinha mar que tivesse o tamanho
Do amor que o seu corpo o meu corpo invadiu

Numas quebradas você se mandou
Era sonho!
Onde eu vou?
Com essa flor...

Lá nas Quebradas eu penso em você

Vem me ver 
Quem sonhou?
Pra que sofrer?

Vem me ter
Quem és tu
Pra me perder?

Vem me ouvir
Quem sou eu


Pra te esquecer?



HERMETO PASCOAL


Foto de Cláudia Ferreira

Hermeto Pascoal
com o Berrante a me acompanhar
enquanto eu cantava a nossa parceria
 no
 
Teatro Rival

Inesquecível

Foto de Cláudia Ferreira
Quadro de Irene Medeiros
  Pintora campinense

                                                                   
Novena

É a música instrumental a partir da qual escrevi uma versão para voz e nomeei 


A FEIRA GRANDE DE CAMPINA GRANDE



Hermeto Pascoal / Numa Ciro


Quero lhe mostrar nessa cantiga:
Foi na feira de Campina onde o mundo se criou.
Ouça com atenção! 
Na minha vida, não vi coisa mais divina
Quando um cego anunciou:

Quem se aventurar nesse mercado
Deixe aqui o seu trocado
Pelo nome de Jesus.
Eu não tive a vossa alegria
De ganhar a luz do dia
A cegueira é minha luz.

Quase num milagre a vista alcança
Os detalhes de uma trança de cebola ou alfenim.
Acocorando escolhe coisinhas de barro
Só pensando na virtude desta mão que fez assim.
No labirinto do roteiro encomendado
Inverte a ordem do traçado quem começa pelo fim.

Corro na barraca de Zumira,
Vou buscar a lamparina,
Severina encomendou.
Olho para os lados, vejo briga,
Não é nada, é a pechincha,
Nada besta o comprador.



 Seu Aluísio
 Salve!!!
Eu e Hildebrando na Barraca de Seu Aluísio
passeando na feira de Campina Grande
Quero visitar seu Aluísio,
e comprar queijo de manteiga
Apelidado de Romeu,
Quando ele se junta 
Com o doce de goiaba,
Julieta,
Casa quem disso comeu

Para comprar bode novo, tem lei
Pai-de-chiqueiro, cuidado! 
O cheiro é desagradável demais, porém
Buxada é prato de rei.
Pois é! 

Dê outra volta pra gula vestir
Carne-de-sol posta em mantas
E as linguiças, gravatas, são fashion, say:
Luiz cantou isso outra vez.

Calungas de pano,
Panelas de barro,
Jarrinhos de louça
Vestidos engomados
Pro recém-nascido: toquinha e casaco
Lá na tenda do cigano há quem leia o passado
Futuro é do tempo,
Querer é de agora,
Quem vem nessa feira vadia pela hora.
Quem pega em rodilha não teme o balaio.
Fumo de rolo e cachaça espanta o cansaço.
Quanto cobra pelo frete?
Eu lhe pago em dobrado
E dou mil pro assovio

Jabuticaba, cajá, mimo-do-céu; 
Abacaxi, macaíba,
Quebra-queixo, pitomba, castanha e mel;
Queijo-de coalho e beiju.

Côco-catolé, caju, sapoti;
Fuba de milho, sequilho, soda,
Mandioca, inhame, maxixe, umbu;
Manteiga-da-terra e caqui.

Não deixe a feira sumir 
Não deixe a feira acabar
Campina Grande é ali
Grande é a feira de lá

Irene num quadro a feira imortalizou
Irene não morre
É imortal quem pintou

Na Feira Grande de Campina Grande canta
Asa Branca, Miudinho, Bem-te-vi meu Sabiá.
Até o Galo de Campina se casou com a Noivinha Coroada
E fizeram ninho lá.


Na Feira Grande de Campina Grande canta
Velho moço e criança, qualquer homem ou mulher.
Até um surdo se esqueceu que era mudo
E de repente cantou tudo.
Só não canta quem não quer

Pra quem quiser tocar na feira:
Na feira encontra a condição.
Tem fole e sopro cordas e teclas;
O que não falta é percussão.


Para os devotos rezarem Novena:
Da feira sai a procissão.
A catedral é bem pertinho.
A Padroeira é Conceição.






TIBOR FITTEL





XOTE À PRIMEIRA VISTA

Letra de Numa Ciro
Música deTibor Fittel



Samico

Quem me chamou de meu amor
Não disse nada 
Só olhou 
Eu entendi
Correspondi imediatamente
Aquele olhar de sol nascente irradiou e eu ouvi

Man Ray


Ouvi chamar:
Vem meu amor!
Não disse nada e começamos a dançar
Rodopiamos infinitas vezes
A sanfona não conteve o toque de acompanhar





O Xote vai dizer 
O que eu não disse com palavras 
Nem você
No Xote a gente conversa à vontade
Faz amor 
Mata a saudade da saudade que vai ter



Ulysses Sanchez

O Xote vai dizer 
O que eu não disse com palavras 
Nem você
No Xote a gente conversa à vontade
Faz amor 
Mata a saudade da saudade que vai ter






quarta-feira, 14 de outubro de 2015

AS VERSÕES



AS VERSOES 




I



Lotus Blossom - Billy Strayhorn







Billy Strayhorn




NOITES DE BILITIS

Versão de Numa Ciro











Em noites assim sem estrelas
Descansa no colo a noite
Esqueço os ruídos do mundo
E em nós
Versos de Bilitis 




Risos-entre-beijos
Instante preciso
Olhares num tom mais bonito
Somos mulheres
As flores
E eu
 Escrevo pra não morrer

                   
                     


Quando a noite vem
Nas mãos um véu
Eu penso em nós
Tudo é nosso até a morte
Vem com a noite
Vem
Hei




















Em casos assim como o nosso
descansa do ódio o mundo
Esquece a conversa de ontem 
e vem 
com a noite roubar o céu 
Esquece a conversa de ontem 
e vem 
com a noite roubar o céu 


      





Duke Ellington
                                        

                          Sonhos do amanhecer


   Versão de Numa Ciro para Day Dream
 
Música - Billy Stayhorn / Duke Ellington
            


Versão e Voz de Numa Ciro
Gravação original como base desta verão 







Ouvi sons na manhã...
Algo entre o nascer
de um rosto na solidão
e vozes na solidão...

E na fonte-luz:
Eram canções-ninfas-da-manhã:
brincavam com as ilusões
Brincavam de amor ou...
Rárrárrá...

Um pensamento sumiu.
Fez-se lento o tempo.
Penso ao longe, o que serei?
Essa orgia de acordar...
Entre os beijos das romãs-irmãs!
Talvez serei o que não sei em mim.

Sonhei no amanhecer
Quase acreditei no olhar em contemplação
Brincando de ser real
Quase morro de rir

Mas uma vez fiquei a imaginar
Uma deusa desperta
Por tudo quanto fez o amor
Fez valer esse dom
E ainda faz canções
E sexo
Sempre haverá paixão

Ouvi sons na manhã
Algo entre o nascer
De um rosto na solidão
E um dia sem fim... 
















NO ME NIEGUES EL AMOR
DE ERNESTO LECUONA

VERSÃO DE NUMA CIRO


PARA O GRUPO CORPO




VEM

Vem
vem dançar um bolero

meu amor

Vem

atiçar meu inferno interior 

Vem 

tocar na pele a alma das estrela altas

en mi cielo







Vem dançar um bolero de amor
un Pas-de-deux
Abraçar-me ao redor do ciúme… bésame!
Vem
A sorte é salto esperto em nosso peito às voltas do universo
Vem!





Se não vens
Não me digas
Não quero nem saber
Não
Não me negues o amor depois do sol
Vem
O tempo é nosso
A paz que a lua alcança dança nessa noite






Vem tocar as pontinhas dos dedos e girar
Alcançar-me a cintura no ar perder o chão
Vem
Jogar-me ao mundo
E o rumo dos teus passos seja aonde os meus irão







GELSOMINA




O OLHAR

     Música de Nino Rota
          Versão de Numa Ciro
  





Vi naquele olhar
Nunca esquecerei
Vi naquele olhar...

Não sei…

Lembro o que senti

Nunca esquecerei
Uma solidão sem fim

Estrada afora
o olhar segue o destino
inquietação
Em cada curva
os seus caminhos se perderão

Vi naquele olhar
Nunca esquecerei
A certeza de estar 










AS TIME GOES BY



Herman Hupfeld 
                                                                                                                                     Versão: Numa Ciro 
 


                                                      















 Vens cada vez mais linda
  E a causa que te arrasta
 Os sonhos que inventas
Reflexos das estrelas
 Horizonte em meu viver
  Essências pra pensar
  E a loucura de querer na falta de paz
Quem bebe comigo?
  Para onde irei tão só?
 Agora que o trem partiu...
   Um simples caso na história a mais
 Não toque em mim tal canção
   




O tempo de esquecer
Intensas emoções
É o tempo de esperar
Ouvir de novo esta canção
É só ouvir                              
E tudo que ficou
Perdido em nosso adeus
Explode em nosso olhar
Na luz que vem desta canção
É só ouvir


Não há tristeza
Nem mesmo rancor
Razões se calam
Diz esta canção
Quando o amor vem
Quem não pede ao tempo
Tempo de viver
A história mais feliz
A glória de sentir intensas emoções
O tempo que nos faz lembrar
As time goes by
As time goes by












                  



A ÚLTIMA RUMBA





The last rumba  
Jean-Michel Jarre

Letra: Numa Ciro



Noite Estrelada
Vincent Van Go






Quem és oh meu amor
Quem vem sem avisar
Quem foi que se esqueceu
Das histórias de ser ou não só


Quem és se não estás 
Virei um sonhador
Contei por mais de um mês
As estrelas no céu
Quem passou

E agora quem viver
às custas deste amor
será imortal em seu farol
Talvez 
um anjo louco ferido
Mas a paixão tem seu estilo
e ninguém vive sem razão

Onde estará então entre os mortais?
Aquele olhar
Quem viu?
que esquenta o coração
É solitário amar enfim


Anjo Ferido
Hugo Simberg





ASTOR PIAZZOLLA



LIBERTANGO










ESTRANHO... ESSE PARAÍSO

 

Versão de Numa Ciro sobre o arranjo de Ray Connif para STRANGER IN PARADISE - Ária da ópera Prince Igor. Música de Alexander Porfiryevich Borodin (1833- 1887)




VCoisas de lembrar

Não se perde um paraíso assim…


Era uma vez  Alguém 

se dizia tão feliz feito Ninguém
Lá estava com seu grande amor
Ao largo das cruéis razões

A natureza em si
Imagine a plenitude de um jardim
No alto de um Arranha-céu
Sonhava-se ao luar

Nas brasas do silêncio
O caos dos beijos
O mundo ria-se
Rios de rir

E as noites calmas
Endiabradas
Boleros & blues
E as mordidas maçãs

E as manhãs em manhãs de sol
Era o tempo a se espreguiçar
As coisas sempre estavam lá
E ao longe uma voz a cantar

Dizia uma canção de amor
Que antes mesmo de o mundo o inventar
Havia alguém que amava outro alguém
Eternamente amar


Não?

 

Lasar Segall 
Retrato de Mário de Andrade 1927
Óleo sobre tela
Coleção de Artes Visuais do Instituto de Estudos Brasileiros - IEB/USP (São Paulo, SP)



Coisas de lembrar
Não se perde um paraíso assim…


Outro alguém se dizia mais feliz sem ter ninguém
Lá estava com seus animais

Gostava de uma solidão
E tudo era questão de paz
Não tinha peito pra matar adeus
Andava na cidade feito um Deus
Sorrindo ao Deus dará
Somente Adeus dará