segunda-feira, 2 de outubro de 2017

A MÁSCARA DE UM POEMA


                    A         M   Á   S   C   A   R   A         D   E         UM         P   O   E   M   A      



                                                                          
Numa Ciro


















      Coloquei a máscara de um poema
      para esconder os olhos dessa ausência

      O que será de mim perdida entre os versos

       Nada serve para esquecer
       Nem as rimas nem o ritmo nem a métrica
       Nem sequer endoidecer

Jogando com Mallarmé
Jamais jogaria os dados para abolir nosso caso









ADÁGIO PARA A QUIETUDE










ADÁGIO PARA A QUIETUDE

Numa Ciro 



Imaginei um lugar...

Um jardim suspenso 
Pelos raios daquela manhã luxuosamente ensolarada

As ninfas corriam às voltas
Afrodite lembrou do meu nome 
Zabé da Loca fazia um concerto para os passarinhos
As musas passaram contando intimidades com a primavera

De repente
Vi Mocinha da Passira fazendo Ariano chorar
Conheço aquele rapaz no colo da Pietá
Peguei Narciso me olhando 
Quase morri de olhar

O que estava fazendo 
Quando entrei nesse lugar?

Ouvia o Adágio de Schubert
Imaginando sei lá
E cultivava a preguiça 
Quando Eros disse "Olá!"
A flecha era de bambu
Não atentei para o arco 
Foi-tudo-tão-tão-rápido
Não-deu-nem-tempo-falar

Entre o olhar e a voz
Suspensa a beleza por um fio de silêncio

Para onde eu vou depois de tudo isso?






Ode à Preguiça



A MOLDURA DE UM TEMPORAL







A MOLDURA DE UM TEMPORAL

Numa Ciro



Lambendo os lábios e gemendo de preguiça
Ela
Rolava rindo em uma cama virtual.

Ouviu música a noite inteira.
Virtuose, a violinista.  

Agora
o  INVERNO 
de VIVALDI
Toca nessa manhã que insiste em não clarear

As notas lentamente lambem seus tímpanos
Pizzicatos sensuais beliscam seu ventre 
As harmonias fazem vibrar 
As cordas líricas dos seus nervos

A janela é a moldura de um temporal.


De olhos fechados
Rega as ilusões
Sem perguntar ao vento
Quem assovia ali dentro.

Uma porta range de amor ao tempo,
Escancara um murmúrio atravessado
E se faz sintaxe e gramática de um desejo
Através de frases jamais pronunciadas.

Stop

E se chovesse na calçada noturna des amants?
E se a chuva molhasse a língua que escreve esse desejo?

A última gota desse orvalho
Haveria de fazer transbordar a tempestade


Ao tocar no deserto sedento de um beijo.