sábado, 12 de novembro de 2016

UMA TARDE COM CORA CORALINA



Este autógrafo sagrado foi escrito na primeira página deste livro
quando ainda me chamava Socorro, ou Maria do Socorro.

Pena... não tínhamos ainda os celulares para ter feito uma selfie deste encontro. Passaram neste momento duas mocinhas que tiraram fotos nossas, mas perdi-as de vista. 



Quero agradecer a Reginaldo Sadi, meu amigo, músico, pianista, diretor de teatro, que me levou à Cidade de Goiás, onde passamos dias inesquecíveis, hospedados na casa onde ele nasceu, recebidos pela sua mãe com delicadeza e aconchego. 

Nesta ocasião conheci a poetiza Cora Coralina. Passei uma tarde com ela. Conversamos sobre muitas coisas, falamos poemas e, a seu pedido, também cantei.

Reginaldo partiu precocemente e deixou em cada um de nós, artistas que privamos da sua convivência e usufruímos dos seus ensinamentos, um legado cultural inestimável. Devo a ele as amizades preciosas de Ângela Mascelani e Nietta Monte.
Conheci Reginaldo nos palcos do Teatro Municipal de Campina Grande, Paraíba, por ocasião do famoso Festival de Inverno da cidade que dura até hoje. Ele assistiu à minha estreia nos palcos com a peça 15 anos Depois de Bráulio Tavares e desde então nunca mais nos separamos. 
Ele dirigia o Grupo de teatro TERRITÓRIO LIVRE e, quando desfeito, os  atores e as atrizes criaram a INTRÉPIDA TRUPE.  
Quando, em 1985, vim morar no Rio de Janeiro, fui morar com ele. 

Este encontro com Cora Coralina foi um entre mil momentos felizes da minha história proporcionados por Reginaldo. Evoé!  

Ganhei naquele dia uma irmã, caçula, atemporal, registrada no cartório da dedicatória. 
Aninha! A irmã que a poesia me deu! 

Na contracapa da edição deste Livro pousaram as palavras do poeta Carlos Drummond de Andrade a Cora Coralina:

“Cora Coralina. 
Não tenho o seu endereço, lanço estas palavras ao vento, na esperança de que ele as deposite em suas mãos. Admiro e amo você como alguém que vive em estado de graça com a poesia. Seu livro é um encanto, seu verso é água corrente, seu lirismo tem a força e a delicadeza das coisas naturais. Ah, você me dá saudades de Minas, tão irmã do teu Goiás! Dá alegria na gente saber que existe bem no coração do Brasil um ser chamado Cora Coralina. 
Todo o carinho, toda a admiração do seu.”

- Carlos Drummond de Andrade, Rio de Janeiro, 14 de julho de 1979. [publicado "Villa Boa de Goyaz", de Cora Coralina. São Paulo: Global editora, 2001].


Aninha respondeu:


“Carlos Drummond de Andrade. Meu amigo, meu Mestre. 
Com alguma demora no recebimento de sua mensagem e maior da minha parte, vai aqui na pobreza deste papel de que só vale o branco, meu agradecimento àquele que de longe e do alto atentou para a pequena escriba, sem lauréis e sem louros, sem referências a mencionar. Sua palavra, espontânea e amiga, fraterna veio como uma vertente de água cristalina e azul para a sede
de quem fez longa e dura caminhada ao longo da vida. Abençoado seja o homem culto que entrega ao vento palavras novas que tão bem ressoam no coração de quem tão pouco as tem ouvido. Despojada de prêmios e de láureas caminha na vida como o trabalhador que bem fez rude tarefa, sozinho, sem estímulos e no fim contempla tranqüilo e ainda confiante a
tulha vazia. Meu Mestre. Meu Irmão. Que mais acrescentar? Eu sou aquela menina despenteada e descalça da Ponte da Lapa. Eu sou Aninha.”

- Cora Coralina. cidade de Goiás, 02 de setembro de 1979.


A correspondência entre eles continuou a partir de então e o poeta não cansou de divulgar a obra de Cora Coralina. 

E vivo assim, a descobrir parentescos poéticos 
que não têm fim...