sábado, 8 de dezembro de 2018

AMIGOS AND FRIENDS








AMIGOS AND FRIENDS

Versão de Numa Ciro
para
Raindrops Keep Falling On My Head de BJ Thomas






Rodrigo Faria a cantar

no nosso

Cabaré Concreto



AOS AMIGOS 

PAUL E RODRIGO





Butch Cassidy and the Sundance Kid
Robert Redford and Paul Newman


AMIGOS AND FRIENDS


Versão de Numa Ciro

para

Raindrops Keep Falling On My Head de BJ Thomas

 

 

Brother!

Amigos são irmãos

Irmãos como as almas em Platão

Amantes são

Sábios 

E ainda são

Bons

Belos

Quando amados são ladrões do sossego

De quem não vê outro vulto em seu colchão

E mais

Será Eros o seu Gênio

Desde então

Dormindo em seu portão

Yes

Quando dois olhos cara a cara esbarram

Na exatidão do amor

No ar

Misteriosos os convites

Do olhar às mãos

A contar quantas flechas!

Please

 

Brother

O amor não tem rival

Eros fere o alvo e sai dançando

Afinal

O amor é imortal

cause

Enquanto dura aquele beijo eterno

Se quer morrer

De prazer em prazer

 

"Now, to be on anew and basking again in the panorama of all flores and speech,"

 

Frente a paixão

Das bocas brotam improvisos

 

Brother

O amor é genial

Eros lança a flecha e sai correndo

Afinal

Procura o ideal

Yes

E quando acerta o alvo

Deixa ao acaso

O olhar cair na conversa do amor

As invenções do Amor. 






A citação em inglês é de James Joyce em Finegans Wake = Finnicius revém. Livro I Capítulo 6, página 143. 
Introdução, versão, notas Donaldo Schüler. 
2. edição. São Paulo, Cotia: Ateliê Edirorial, 2004.

9. “Agora, para voltar à carga e redesfrutar o panorama de todas as flores da fala,”


quinta-feira, 23 de agosto de 2018

MÃE NEGRA MÃE




Mãe  PRETA  Mãe

Yabás

                                                            Por Numa Ciro          



Rainha-Mãe-das-terras-de-Além-Mar
Sabe cantar Lunduns para o mundo se criar.
Mãe fala a língua das deusas,
Dos santos, dos Orixás.
Os segredos da Natureza
São Tesouros das Yabás

Mãe Stella de Oxóssi
Mãe Menininha do Gantois
Mãe Olga de Alaketo
Mãe Beata d’ Iemanjá

Mãe vem de muitos nomes.
O nome de cada lugar dava lugar a um nome
que dava nome pra ela
e nomeava de novo o lugar donde ela vinha
e nessa troca de nomes o próprio nome adivinha
o nome que se esconde no nome próprio que tinha.

Teresa de Benguela
Raimunda da Abissínia
Dandara de Palmares

PRETA lutou
Negra benzeu
Negra encantou

Negra-Mãe-de-um-reino-que-não-tem-fim
Sabe fiar memórias para o mundo não dormir

Nega Gizza
Elisa Lucinda
Érica Peçanha
Roberta Estrela D'Alva

Um dia,
Quando Mãe chegou,
Mãe chorava.
Ela vinha ornada
de colares e anéis,
brincos e braceletes,
turbantes e panos-da-costa.
Mãe inventa seus enfeites

Artista de mil jeitos,
Mãe livra a cara da gente.
Quem não pede seus conselhos?

Maria Firmina dos Reis
Carolina Maria de Jesus
Conceição Evaristo

Mãe sabe o triste e o contente.
São belos seus cabelos
E bem talhados seus pentes.

Rainha-Mãe-dos-reinos-que-inventou
Sabe fazer cafuné para o mundo adormecer.

Nega Cristina
Nega Fulora
Nega Zéfa

Negra-Mãe-rainha-da-alegria
Inventa rodas-brincantes para o mundo se encantar.

Zabé da Loca
Selma do Coco
Edite do Prato
Lia d’ Itamaracá

Negra-Mãe-Rainha-da-canção
Aduba o terreiro do samba para o mundo se encontrar.

Tia Maria   do Jongo
Tia Ciata    da Praça XI
Tia Surica  da Portela

Negra-Mãe-Rainha-Mãe-Ancestral-dos-Lares
Levanta com sono e dá a luz às cidades

Mãe-D’água
Mãe-de-leite
Mãe-de-Santo
Mãe-de-Criação

Mães-Negras-Rainhas-guerreiras-do-luto
Choram seus filhos nas Quebradas do Brasil.
Mãe busca seus filhos perdidos...
Tem tempos que não são idos.
Os filhos que foram mortos:
Mãe quer enterrar os seus filhos.

Mães-Negras-Rainhas-Guerreiras-no Desamparo
Procuram seus filhos: 
Os desparecidos.
Desarmadas e aflitas 
Oh Fúrias benévolas da justiça!
Mãe exige os seus filhos de volta.

MARIELLE FRANCO

Nas voltas que o mundo dá,
Que se quebrem, em cada volta, todos os elos das correntes.
Que algemas se partam na mente
E a gente invente um diz-paro diferente
daquilo que se atira bem no coração da gente.

Dona Ivone Lara
Elza Soares
Jovelina Pérola Negra
Clementina de Jesus 

Vó Pretinha Vovó Lourdes  Vovó-Zinha
Mãe de dia Mãe de noite Mãe-manhãzinha
Mãe-de-Santo Mãe-do-Corpo Mãe-da-Boa-Morte
Mãe-da-Terra Mãe-do-Céu Mãe-da-sorte

Canto - letra e música de Numa

Aiyê Aiyê Orum
Aiyê Aiyê Orum
Aiyê Aiyê Orum
Aiyê Aiyê Orum

Nanã Iansã Obá Euá
Pomba Gira  Preta-Velha Iyá Bassê
Oxum  Oxumaré Iemanjá
Anastácia Aparecida Aluanguê

Aiyê Aiyê Orum
Oduduá
Aiyê Aiyê Orum

Aiyê Aiyê Orum
Oduduá
Aiyê Aiyê Orum




Mãe Menininha do Gantois



Mãe Stella de Oxóssi







Mãe Olga de Alaketo





Mãe Beata de Yemanjá





Teresa de Benguela





Dandara  de Palmares






Elisa Lucinda





Roberta Estrela D'Alva





Maria Firmina dos Reis







Carolina Maria de Jesus







Conceição Evaristo







Zabé da Loca







Selma do Côco







Edite do Prato 







Lia de Itamaracá







Tia Ciata








Tia Maria do Jongo






Tia Surica







Dona Ivone Lara






Jovelina Pérola Negra




Clementina de Jesus 





Érica Peçanha




sábado, 16 de junho de 2018

BOLERO MÃE




MAURICE RAVEL




BOLERO DE RAVEL
Carlos Drummond de Andrade


A alma cativa e obcecada
enrola-se infinitamente numa espiral de desejo
e melancolia.
Infinita, infinitamente...
As mãos não tocam jamais o aéreo objeto,
esquiva ondulação evanescente.
Os olhos, magnetizados, escutam
E no círculo ardente nossa vida para sempre está presa,
está presa...
Os tambores abafam a morte do Imperador.






BOLERO MÃE


Letra de Numa Ciro

Para a Música de Maurice Ravel


Esta versão poética foi escrita pensando em

Aída 

que adorava ser minha mãe

e morreu, como na ópera, 

junto com seu amor, João, 

que adorava ser meu pai.


AÍDA



Ofereço às filhas pensando em nossas mães 


Escrevi esta letra ouvindo a gravação da 

Wiener Philharmoniker no Festival de Lucerna

conduzida pelo Maestro Gustavo Dudamel

1


 

Mãe
As estrelas são lanternas no céu
da criança e do pintor
Eu imitei o colibri
No Amor se brinca de morrer de amor
Batterfly não me enganou 


Mãe
As coisas são como elas são 
As coisas sem precisão
Sem razão 
Eu sei seu coração tem razão 
Ouviu meu coração em Ravel
As coisas se repetem sem ser iguais
Como são desiguais as estações

   

Mãe
Você sabe onde o sol se escondeu?
Eu brincava com a paixão
E esqueci de me esconder
Paixão é verso livre em seu querer
Mona Lisa disfarçou

B

Mãe
Os olhos fingem não querer
Parece simples fugir
Eu vi
O olhar que escapou
Não quis
Olhar o pôr-do-sol
Lá no cais
Através d’ O Grito que ecoou
Nossa dor
E a voz do poeta fingidor 

C

Mãe 
Não conheci a inocência
e fingia 
não saber o que diziam 
os boleros que você cantava
E eram cenas de amor 

 C

        Mãe
Não conheci a inocência 
e fingia
não ouvir os fados    
nas noites de serenata
e eu não dormia

2


A

Mãe
Parecia que o mundo era um só
Outros mundos descobri
Nas mil histórias que ouvi
Em cada noite antes de adormecer
Nega Zefa me contou

B

Mãe
No meu vestido de organdi
um sabiá disse assim
Vou fugir
Depois ele furou o organdi
Fugiu pro verso que diz adeus
Agora diz nesta versão de Ravel
Não não chores de amor eu voltarei 

A

Mãe
A estrada sabe aonde eu irei?
Eu brincava de fugir
Estradas andam sem andar
Ser-tão boleros pra lá e pra cá
Vi Cabíria e chorei

B 

Mãe
Meninas brincam de casar
Bonecas nascem também
sem falar
Adormecem com as canções
de ninar
Elas choram aflições de um lugar
E já morrem loucas de saudades de alguém
Logo esquecem e vivem de brincar

C  

Mãe
Não conheci a inocência
e fingia
que as mães jamais morreriam
Mas você silenciava
E eu tremia

C

Mãe
Não conheci a inocência
E fingia
Que as mães jamais sofreriam
E se você chorava
Era eu quem morria
  
3

 A

Mãe
Eu guardei tantos segredos em mim
Eu temia o nosso olhar
A mãe tem dom de adivinhar
As mães escondem a mulher de amar
Pois Medéia se enganou



Mãe
Crianças brincam de ensinar
o ABC dos mortais
É demais
O que fazem com as cinco vogais
Nos fazem parecer imortais
Depois nos roubam as certezas finais
Em segundos acordamos animais

A

Mãe
Descobri tantas verdades cruéis
Crueldade é não saber
Não tinha medo de chorar
Mesmo sabendo que a verdade dói
Choram as Plêiades no céu 

B 

Mãe 
Eu descobri as Yabás 
As deusas gregas e o céu 
das pagãs 
O cosmo das ateias e o chão 
das Amazonas e o coração 
de uma Icamiaba a se olhar ao luar 
no Espelho da Lua Yaci

 

 C

Mãe
Não conheci a inocência
E fingia
Crer em um único ser superior
Para quem você rezava
E eu duvidava

C

Mãe
Não conheci a inocência
E fingia
Não saber quem no natal colocava
os presentes sobre os sapatinhos
E eu agradecia a você

  
4


A
  
Mãe
me chamava bandoleira
Eu nasci pra vadiar
Vivia louca pra dançar
Foi quando ouvi batuques no quintal
Clementina me chamou

B

Mãe
Entrei na Roda pra sambar
Onde a tristeza aprendeu
Trocar
Os passos com a alegria
e dizer
No pé o ritmo do coração
Esse mundo é um moinho
Preste atenção
Um instrumento é bom se alguém tocar

A 

Mãe
Eu cantei com as sereias do Mar
Fiz barquinhos de papel
Um marinheiro me escutou
Fisgou meus sonhos nunca mais voltou
Afrodite me acordou

B

Mãe
As coisas belas são assim
As belas coisas serão
Sensuais
Amados não suportam rivais
Ouvi nesta versão de Ravel
Os amantes brincam em dar beijos mortais  
Disso sa-Be-a-triz em seu papel



Mãe
Não conheci a inocência
E fingia
Alegria pra não ver em você
A tristeza que era minha
E eu me perdia

C

Mãe
Não conheci a inocência
E fingia
Que as mães jamais passariam
Pela morte de um filho seu
Mãe você perdeu

5

A

Mãe
Conheci o impossível assim
Tropeçando onde não há
Nem mesmo um verso pra dizer
Onde nem mesmo nada há de haver
Alphonsina foi ao mar

B

Mãe
Parece fácil não morrer
Parece simples viver
E dizer
A terra é onde eu quero ficar
Sabendo que a canção chega ao fim
Não termina  diz  em seu bolero   Ravel
O começo de tudo está no fim

C

Mãe
Jamais perdi a inocência
Eu menti
Nesses versos que escrevi no bolero
Acredito que só as mães são felizes
e
Mãe
Eu serei
Feliz
Agora eu posso ser feliz
Alguém dirá pra mim
Eu sei fingir
Eu sei fingir que eu finjo
Sei mentir
Sobre essa dor
Sobre o amor
Toca o tambor
Do coração
Diz o refrão
Mãe quer mais
Mãe vem Mãe
Mãe quer paz
Pai