terça-feira, 18 de novembro de 2014

HOMENAGEM A MANOEL DE BARROS



Foto retirada da internet 
sem nome do autor

Poema / Colagem com os títulos dos seus livros


foto sem autoria retirada da internet


Retrato de Manoel
tirado do Barros

por Numa Ciro



Encontrei no
Tratado geral das grandezas do ínfimo
a indicação do livro
Poesias
no qual
O fazedor de amanhecer
conhecido também como
O guardador de águas
utilizou a
Gramática expositiva do chão
e assim engendrou com a
Matéria da poesia
um
Compêndio para uso dos pássaros
verdadeiro
Concerto a céu aberto para solos de aves
com 
Arranjos para assobio

Tinha até oferecimento
Cantigas por um passarinho à toa

e pareciam
Poemas concebidos sem pecado
como se um
Menino do mato
nos seus
Exercícios de ser criança
tivesse rabiscado um
Poeminha em língua de brincar

Aqueles rabiscos eram letras de ensinar ao mundo que no
Livro das ignorãças
ou então no
Livro sobre o nada
há uma sabedoria secreta que se pode decifrar à luz dos
Poemas rupestres
e poderá ser alcançada por quem falar a língua escrita no
Livro de pré-coisas

Só mais uma coisa
Afie o seu olhar para abrir a
Entrada
do
Ensaio fotográfico
e veja a
Face imóvel
feita para a capa da obra

Ali podemos ver a imagem real do poeta em seu
Retrato do artista quando coisa.

sábado, 15 de novembro de 2014

NATUREZA VIVA - TÉCNICA: ACRÍLICA SOBRE PELE

O encontro de Numa Ciro 
com
 Hildebrando de Castro 


ABL

1986


O Nascimento de Numa Ciro



JORNAL DO BRASIL

Ainda a chamavam de Socorro Brito


ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
1986




Criamos esta Performance Natureza Viva - Acrílica sobre Pele
O pintor fazia do meu corpo a sua tela
Eu cantava Surabaya Johnny - Bertholt Brecht e Kurt Weill 
- versão de Sílvia Vergueiro -


A escolha pela bomba atômica em explosão
foi em protesto contra as Usinas Nucleares 
e pelos descuidos com essas armas mortíferas, tendo como exemplo o  a(in)cidente com o césio em Goiânia, GO.

Nossa performance fazia parte do projeto de ocupação, por artistas marginais, do Centro Cultural do Brasil na ABL 




Meses depois, a Performance evoluiu na pista para um traje de gala
Era um vestido de mini saia.
O pintor vestia a modelo peça por peça


A Primeira Performance 
em que era vestida para cantar
Aconteceu na Abertura da Exposição
Os Iconógrafos
 no Parque Lage
O fotógrafo Walter Tochtrop era um dos artistas Iconógrafos.
Numa Ciro foi a modelo que pousou para o seu trabalho 
Giros D'Alma.


Era uma vez

Abrimos a exposição

      Fotos de patrícia Moran  













Nesta performance Natureza Viva - Acrílica sobre pele, onde era vestida para cantar

I



Colocava a faixa original One more kiss, dear – Vangelis  
da Trilha sonora do filme Blade Runner - Caçador de Andróides como base para cantar a minha versão 


Replicante

Quantos sonhos
Tanto faz que me deixes
Sempre estás
As cortinas e as folhas ao tempo
Fazem cenas de encontrar

Na penumbra
Passo a passo
Tua sombra diz adeus
Não  nem quero saber se és um sonho
Implicante olhar

Imortal espanto esse de existir
Beijos trazem céus ausentes
Morte esconde o tempo
Replicante dor
Quem não feriu seu limite?

Quando fazes assim
E te escondes
Eu tenho medo
De que não sejas verdade
Nem a certeza
De caber aqui
Nos mitos
Dos meus loucos pensamentos

Quantos sonhos
Tanto faz que me deixes
Sempre estás
As cortinas e as folhas ao vento
Fazem cenas de adeus


II

Damas do Planalto

                                                           de Tânia Christal


Eu fui totalmente dominada pela frigidez do asfalto
Eu sou nada mais
Nada mais que um operário

Beijos abraços 
Certos afagos
A vida só me dá trabalho

Beijos abraços 
Certos afagos
A vida só me dá trabalho

Tão pensando o quê êêê?
Tão pensando o quêê êêêêêêêêê...
Tão pensando o quê êêê?
Tão pensando o quêê êêêêêêêêê...

Eu fui totalmente equivocada
Pela solidão do asfalto
Eu sou nada mais
Nada mais que um proletário

Beijos abraços 
Certos afagos
A vida só me dá trabalho

Beijos abraços 
Certos afagos
A vida só me dá trabalho

Tão pensando o quê êêê?
Tão pensando o quêê êêêêêêêêê...
Tão pensando o quê êêê?


Tão pensando o quê?
Tão pensando o quê?
Tão penando o quê?


Ensaio fotográfico 
por 
Walter Tochtrop

para o vídeo Natureza Viva - Acrílica sobre pele 
de
Patrícia Moran e Cláudia Bolshaw


Hildebrando de Castro e Numa Ciro














sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A PELEJA DA VOZ COM A LÍNGUA - A SAUDADE

Quarta-Feira, 24 de Setembro, 2014, no Itau Cultural - São Paulo, foi a estreia do último monólogo que compõe o Tríptico.

ROTEIRO


Fotografia Daryan Dornelles


A Peleja da Voz com a Língua

A SAUDADE

Para Santuza Cambraia Naves
  

Epígrafe
Sem título - Paulo Henriques Britto

Abertura
Sabiá lá na gaiola - Hervé Cordovil / Mário Vieira

A volta - Numa Ciro

Assum Branco - Zé Miguel Wisnik

Palavraausência - Franco Terranova, in Palavraausência

Mulher Chorando - Flaviola / Numa Ciro

Sobre o Canto XI da Odisseia de Homero - Numa Ciro / Henrique Cairus - traduções de Carlos Alberto Nunes e Henrique Cairus  

Cantigas do Maio - José Afonso / Quadra popular portuguesa
Excelência - Flaviola / Numa Ciro
  
La Martiniana - Andrés Henestrosa / cantiga tradicional mexicana
  
Rasga - Antônio Nóbrega / Numa Ciro

Os Sertões -Trecho - Euclides da Cunha
  
Das Caatingas - Flaviola / Numa Ciro

Erva Cidreira - Cantiga popular do Alentejo, Portugal  

Invenção de Antônio - Nonato Gurgel  

Relógio da Saudade - Gereba / Antônio Conselheiro

Guarda Noturno - Mabel Velloso  

Épico - Caetano Veloso
  
Celeste Aída - Trecho da Ária da ópera Aída - Giuseppe Verdi  

Trecho da parte I de Ars Poética / Operação Limpeza - Waly Salomão, in Armarinho de miudezas  

Trecho de Você - Tim Maia

Irene - Rodrigo Amarante

Se você fosse igual a mim - Tânia Christal / Numa Ciro  

Uma Arte de Perder -Tradução de Paulo Henriques Britto para o poema The Art of Losing de Elizabeth Bishop

Roendo Unha - Luiz Gonzaga / Luiz Ramalho  

Abaporu - César Lacerda / Numa Ciro

Sodade - Armando Zeferino Soares

Saudades - Edição de vozes a dizer Saudade

Coimbra - Trecho - Raul Ferrão /  José Maria Galhardo

Trecho de Mar Portuguez - Fernando Pessoa, in Mensagem 

Saudades do Brasil em Portugal  Vinicius de Moraes

Dejame Llorar (Collar de Perla) - Alfonso Esparza Oteo

Bicho - Tânia Christal / Rui Matos

Coração Bateu - Jackson do Pandeiro / Ivo Martins

Rua da Saudade - Zé Miguel Wisnik / Numa Ciro

Quando tu passas por mim - Vinicius de Moraes

Saudade - Paulo Moska / Chico César

Esteja onde estiver o Tejo - Chico César

Uma frase poética de Roberto Roberti in Al Berto - Diários 

Senhor Extraterrestre - Carlos Paião  

Canción Mixteca - José López Alavez  

Longe - Arnaldo Antunes  

Alguém Cantando - Caetano Veloso  

Primeira parte do rap Sereia Louca - Capicua

Trecho de Saudosismo - Caetano Veloso



Ficha Técnica

Concepção, Roteiro e Direção: Numa Ciro
Apoio Cênico: Lígia Veiga
Assistência de Direção: Angela Carneiro
Iluminação: Orlando Schaider
Cenografia e figurino: Hildebrando de Castro
Direção musical: César Lacerda
Trabalhos de voz: Alba Lírio 
Gravação e Edição: Paulo Brandão – Estúdio Brand
Vozes em Saudades: César Lacerda, Elizah Rodrigues, Numa Ciro e Paulo Brandão
Design gráfico: Guilherme Marques
Fotografia: Daryan Dornelles
Costureira: Nice Silva
Camareira: Cedeli Martinusso
Arquitetura de produção: Miriam Juvino
Produtor executivo: César Lacerda
Assistente de produção: Ana Beatriz Oliveira
Realização: A Gente Se Fala Produções

Agradecimentos

Beá Meira, Beatriz Gouvêa, Elaine Lopes, Elizah Rodrigues, Flávio de Lira, Henrique Cairus, Hermano Vianna, José Machado Pais,  Maria Xavier, Nonato Gurgel, Paulo Brandão, Paulo Henriques Britto, Rossella Terranova, Sônia Alexandre, Sandro Karnas, Sebastião de Souza, Sílvia Ramos, Tânia Christal, Victoria Vasconcelos, Vitor Ferreira, Intituto Itau Cultural e toda a Equipe!



Dia 5 de Setembro, no Teatro da Trindade em Lisboa.



terça-feira, 17 de junho de 2014

OS SETE PECADOS CAPITAIS EM CANTORIA NORDESTINADA




 Coletivo Independente de Teatro
Uma releitura de Berthold Brecht em cena




A Gemedeira dos sete pecados
na capital dos pecadores sem pecado


 Por Numa Ciro

Música - do repente na modalidade da Gemedeira





I
A preguiça


Na floresta da preguiça
de Anouck Boisrobert e Louis Rigaud
Bruaá, 2012
a partir dos 3 anos



Eu gemia de preguiça
dia e noite, noite e dia.
Gemo ainda, em todo canto,
no quarto, na livraria.
Gemerei por toda vida!
ai ai    ui ui 
A preguiça é minha guia.


O gemido é mais gostoso
se eu mastigar devagar.
Com preguiça bebo água
e me arrastando, tento andar.
Gemerei na terra inteira!
ai ai    ui ui
a preguiça é o meu lugar


Gemo alto de preguiça,
gemendo me sobressalto.
Gemo baixo quando canso.
Diz mexer, escuto assalto!
Gemo de tudo e de nada
ai ai    ui ui 
a preguiça é meu asfalto.


Só adormeço gemendo,
acordar é pesadelo.
Fazer sexo é cansativo.
Sonhar, nem de brinquedo!
Gemo sem fim, sem parar
ai ai    ui ui,
a preguiça é meu levedo.


Estou com a fome canina.
Chamo gemendo mãinha.    
Responde a mãe, carinhosa:
- Traga seu prato, filhinha!
Não quero mais, já passou.
ai ai    ui ui,
me cansa ir até a cozinha.



II
A Gula


Uma Despensa
Adriaen van Utrecht, 1642


Eu mastigo sem parar.
Como sempre o tempo todo.
Meu apetite é voraz:
ganho do padre e do lobo.
Eu só penso em guloseima,
Ai ai ui ui,
a gula é meu farto consolo.

Já nasci chupando os dedos.
Mamei em mamãe e na ama;
nas visitas à vizinha
de resguardo em sua cama.
Mamei até nas cabrinhas!
ai ai, ui ui,
gulodice me deu fama.

Criança sedenta e faminta,
só brincava de casinha.
Era sempre a cozinheira
e até a boneca, tadinha!
vivia com sede e com fome,
Ai ai, ui ui ui,
me chamavam gulozinha.

Só compro em lojas que têm
utensilhos de cozinha:
Copo, prato, guardanapo,
comida pronta, quentinha,
bebida de todo tipo,
Ai, ai, ui, ui,
não quero outra vidinha.

Quando vou ao shopping center,
não vejo roupa nem jóia;
não compro nada pro quarto;
oh! doce de paranóia.
Eu salto sem pára-quedas,
Ai, ai ui, ui,
mas num nado sem a bóia.



III
A Ira


Vejam e ouçam bem alto 
Odeio Você
Caetano Veloso
https://www.youtube.com/watch?v=P_gQQHa2F94



Vivo da ira que eu tenho
de tudo que há nesse mundo.
Odeio mamãe e papai.
Dos Irmãos, ódio profundo.
A ira pulsa em cada nervo
ai ai    ui ui 
do meu coração vagabundo.


Irado meu choro ao nascer.
Não conheço compaixão.
A flor do ódio cultivo:
levo um cacho em cada mão.
De raiva pretendo morrer,
Ai ai    ui ui  
Flores do mal no caixão.


O ódio danado qu’eu tenho
cresceu com as ervas daninhas,
nascidas no abandono
de amores perdidos, filhinhas.
Os frutos maduros colhidos,
ai ai    ui ui
divido com as minhas vizinhas.

As sementes dessa ira
fecundo em latinhas de ódio.
Nas estufas do silêncio
cultivo-as como-se-fossem-d’ópio.
Odeio a bondade e a fé
ai ai    ui ui
eu fumo a ira no pódio.


Apago as estrelas da noite.
Quebro a varinha de condão.
A fada madrinha eu enforco,
Papai Noel pro lixão
com saco e tudo que há dentro
Ai ai    ui ui,
só guardo a raiva do cão.



IV
A Inveja

Hildebrando de Castro

  
Eu me mato de inveja,
de quem vive sem sofrer
e tem tudo e mais um pouco,
ganhando a vida ao nascer.
Herdei a inveja de tudo
Ai ai    ui ui,
que está fora do meu ter.


Invejo as pernas da misse
e a cintura de pilão
Quero os peitos de Tieta
ser a musa da canção
e ouvir, por onde passar,
ai ai     ui ui 
“Eu derrubo esse avião”. 


A inveja me consome,
quando não tenho o que eu quero.
Minha inveja tem os nomes
das coisas que mais venero.
Cobiço as mulheres alheias
ai ai    ui ui,
Inveja é meu par no bolero.


Quando entrei naquele quarto
eu vi com a inveja dos mortos
mamãe mimando outro filho
no meu cantinho em seu colo
papai olhando os seus braços
ai ai    ui ui
furei meu pai bem nos olhos.


Saí de casa bem cedo
pra ter inveja bem longe.
Inveja das que cobiça
tudo e todos quando e onde
aparece o que desejo
Ai ai     ui ui
Pela inveja eu virei monge.



 V
A luxúria

luxuriachei na Internet 


Eu acordo e me apaixono
e passo o dia com vontade.
À tarde me pego querendo,
a noite inteira, é verdade!
Eu vivo nadando em prazer
ai ai, ui ui,
em luxuri-oh-cidade...


Em tudo que há nesse mundo,
que qualquer um diz: bom, bons,
existe um mal que eu não troco
nem vendo a imagem dos sons.
O bem e o mal no meu  bloco
ai ai    ui ui
gozam dos dons e nos tons.


Só de pensar me dá luxúria
nas pernas, no olhar e nas ideias
e o corpo brinca com a alma
de vadiar nas boleia
dos caminhão nas estrada
ai ai    ui ui
pra ter gozo de plebeia.


Como gozarão as santas?
E a onça em pleno cio?
Psiu, não geme tão alto,
te vira na lata, amor mio!
cachorra que gosta de funk
ai ai    ui ui
pega o trem no assobio.


Caço a noite atrás do dia,
o rabo é quente, é um açoite.
Quem trepa na cama dos outros
não teme lâmina, nem coice.
O cu dos outros não é o nosso,
Ai ai    ui ui,
luxúria nossa de cada noite...



VI
A Avareza




 Eu quero tudo pra mim.
Não abro a mão para dar.
Só bebo a seiva da vida,
nem a morte vai tomar.
Eu tranco a vida no cofre
Ai ai    ui ui
Avareza vai guardar.


Nem Moliére dormindo
no seu avaro colchão
sonharia com um personagem
sovina que nem meu vilão
que tem  medo de perder
Ai ai    ui ui
até a poeira do chão.


O meu nado sincronizado
no lago de ouro derretido
cunhou a moeda talismã
de tio Patinhas, no vestido.
Pra fantasia avara
Ai ai    ui ui
A riqueza é o tecido.


Mesquinho, mão fechada,
mão-de-vaca, pão-duro e avarento.
São nomes para quem pega
carona nas costas do vento
Ai ai    ui ui
E não dá nem um por cento


Uma avara que nem eu,
que tem vergonha de ser,
é uma vara envergada
nas avarenças do ter
ela só sente a avareza
ai ai    ui ui
quando ela teima em são ser.



VII
 A Soberba


Muralha da china

Doris Monteiro arrasando 
em Mocinho Bonito de Billy Blanco
https://www.youtube.com/watch?v=sk9EiVxngeI&feature=kp


Eu tenho orgulho de mim
e de tudo o que é meu.
Eu tenho mais é que ter
tudo que querem meus eus:
eles só pedem ao mundo
ai ai    ui ui
o mundo todo e até Deus.


Ninguém merece o prazer
que a vida a mim me oferece.
A minha vida se farta
na delícia que se esquece
de tudo e de todos, nem desce!
ai ai   ui ui
a vaidade me aquece 


O orgulho e a presunção
são  balinhas de festim,
se os comparo à arrogância,
projétil largado de mim.
A tirania é meu forte
ai ai    ui ui
Eu prendo e mato tudim. 


Eu sou melhor que você.
Ninguém consegue alcançar
o lugar onde eu cheguei,
de onde eu posso mandar.
Mando no reino e no rei
ai ai    ui ui
Mando o bicho te pegar.


A soberba é minha força
A vaidade me anima
No orgulho eu me sustento
A prepotência me estima
da tirania eu extraio
Ai ai    ui ui
As truculências da rima