Por Numa Ciro
Jesus Helguera
1.
Moça rindo na janela pastorando
seu amor
Um grupo de analfabetos votando
no seu doutor
Papagaios indiscretos imitando
gravador
cruz na beira da estrada
sala-de-estar na calçada
faca-peixeira afiada
e santa em cima do andor
Isso tudo ainda se vê em paisagens
do interior
2.
Tem folheto cordelista vendido
em banca de feira
Matuto em lombo de burro com
relógio na algibeira
Guinés cantando “Tô fraco” e gado
comendo em cocheira
surdo chamado de mouco
as santinhas do pau-ôco
conchas de quenga de côco
e quengas que vendem amor
3.
Uma cabra displicente atravessando
a rodovia
um pavão misterioso namorando
a cotovia
onça pintada das brabas bafejando
a cantoria
pra qualquer dor, um cachete
pra viajar, marinete
pro escuro, frachilete
Lampião tem seguidor
Isso tudo ainda se vê em
paisagens do interior
O Encontro
Samico
4.
O sol caindo na serra e a lua
subindo pra ver
por um momento se olham: morrer
parece nascer
quem viu os dois nesse
instante, jamais consegue esquecer
E pra cantar o elogio
desse encontro de amor
desse encontro de amor
criou-se o tal desafio:
contador-e-cantador
Isso tudo ainda se vê em
paisagens do interior
5.
Mas existe a tal mudança que
mexe em tudo e jamais
engana o tempo que passa e
passa o tempo na paz
Pois não é que a tal mudança mexeu
na moça! e o rapaz?
Agora andam de moto
não querem vender seu voto
da internete, devoto
o povo sabe o valor
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