O espetáculo A Peleja
da Voz com a Língua - A Viagem apresentado no dia 05 de Janeiro de 2013, no Museu Nacional
do Teatro, em Lisboa, pela artista Numa Ciro – cantora, atriz, professora, psicanalista,
nascida no Nordeste, vive no Rio de Janeiro, e esteve numa temporada lisboeta –
foi dos grandes momentos na programação dessa destacada instituição cultural de
Portugal, pelo necessário resgate intercultural Luso-Brasileiro.
O espetáculo se propõe
a “pelejar” ou “dialogar” com as tradições musicais e literárias da Língua
Portuguesa, numa récita que reúne poéticas de origem lusitana – como os
trovadores e os cordelistas – e a oralidade da Cultura Popular Brasileira,
amalgamadas num caldeirão cultural influenciado por tradições literárias
latino-americanas, representadas no realismo mágico de Gabriel Garcia Márquez.
Há essa magia no que
Numa Ciro nos proporciona em cena, pois, num cenário básico e composto apenas
por uma mesa, uma cadeira, uma pilha de livros, a voz – quase sempre a capella
–, sua sensível, porém, bem-humorada presença cênica, envolve adultos e
crianças no universo mágico da Música e da Literatura. Poesias, cordéis,
cantigas, cartas, e gêneros textuais diversos são permeados por melodias que
compõem uma trama musico-teatral, delicadamente traçada, que envolve o público
num crescente emotivo que culmina numa sensação de reencontro entre pátrias e
povos distintos, porém irmanados.
A Peleja da Voz com a Língua – autodirigido
pela artista – é descrito como um Monólogo Cantante, “[…] que explora a língua
portuguesa na riqueza das suas variações, incorporando na sua composição
elementos do Teatro, Artes Plásticas, Poesia e Literatura”, o que faz com pleno
domínio vocal, cênico e, sobretudo, cultural, íntima que é do repertório que
vai de autores desconhecidos aos intérpretes ilustres como Carmem Miranda e
Caetano Veloso – presente em Língua –, do Jazz ao Samba-Canção, do Fado às
cantilenas, cantorias, mitos e lendas evocados em narrativas de ficção, e
afinados no imaginário poético da Língua. Numa Ciro, em sua peleja, constrói
das palavras um misto de cabaré – livre a todas as idades – e sarau literário,
em que cria da musicalidade e oralidade um universo de rara beleza artística.
Um relato espontâneo de
Klaus Novais
Autor, ator e diretor
teatral brasileiro
Mestrando em Língua e
Cultura Portuguesa
na Universidade de
Lisboa.
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