DIGRESSÕES
Primeiras incidências
I.
Acordou sem pensar em nada, pensando que era uma fruta ainda em flor.
Numa incerta hora começaria a entristecer.
Gostava disso.
Calaria aos poucos.
Fios de desfelicidades armariam cenários em seu Teatro Nervoso.
Reencenaria as faces lacrimosas e reconheceria cada lágrima em seus minimíssimos fragmentos.
Filigranas de alegrias testemunhariam as diferenças.
Reticências...
Que diferença faz dizer e pontuar?
pontuar a diferença
É quando a palavra ilustra a imagem.
Uma bela separação... hen?
O tempo?
Rápido Lento Dramático.
Gostava de olhar o tempo
passar... paassssaarrrr...
paaassssssaaarrrrrr... paaaassssssssaaaarrrrrrrr
enquanto engomava o tempo
criava situações às vezes insólitas, outra vezes
perigosas.
Olhava o relógio horas a
fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiooooooooooooooooooo...
Mexia os olhos em pequenos intervalos para acreditar
naquilo que
Viiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
E tinha fé naquilo que se
Escondiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.
Ouvia os carros passarem.
A velocidade do tempo era então a velocidade dos carros.
Depois...
Não ouvia mais nada.
Demorava muito quando sofria.
Mais lento ainda quando não dormia.
Tentava não esperar.
Assim o tempo desaparecia. Apenas uma dimensão diáfana de ar e o movimento do pescoço.
Tudo eternizado em tédio tecido pelas circunstâncias imperceptíveis.
E a solidão?
Antes tentava que a solidão fosse apenas uma palavra.
Depois... descobriu um absoluto silêncio que só existe na solidão.
Então... a solidão foi se desenhando: era a própria imagem do
deserto.
O óbvio deve servir para alguma coisa. Não há metáfora que não tenha um pezinho no óbvio.
Descobriu que na solidão há o esquecimento de respirar.
Procurava tomar fôlego, sugava o ar. Porém detestava os cheiros fortes.
Uma lembrança aguda espirrou.
Não haveria nenhum indício de alívio.
Como inventar distâncias para afastar a inquietação, a
recusa?
E essa vergonha por não saber se comportar?
Um riso então se espalhou pelo mundo.
Vislumbrou a aurora puxando as pálpebras do sol.
II.
O tempo leva o vento? Isto é verissimamente verificável.
Ou o vento empurra o tempo?
Qualquer poeta que se pese atiraria esse "ou ou" pela culatra.
Será que o mar escuta o jongo das ondas nas pedras?
Esse segredo
Essa espera
Esses degraus
Tímida lua
Rios absolutos
Pensou: Quero tudo desse escoamento.
O
sangue
apenas
DeeeeeeSSSSSSLLLLLLiiiiiiiiiiiiiSSSSSSSSaaaaaaaaaaaaaaa
Irrigando essa tal sensibilidade fazendo gozar os olhos...
Ahhhhh fetiches estranguladores!
E os dentes que mordem como se mastigassem pétalas?
Faria qualquer coisa mas precisaria de ânimo. Nada de festas.
se chegasses agora, que faria com minhas unhas? minha língua? saliva e?
procurava sorrir sem mostrar os dentes.
O dia cinzento tinha a cor dessa espera.
O tempo permanecia imóvel
As horas eram seres sem piedade
O tempo quando se movia matava gente
sem nenhum arrependimento. Jamais voltou o tempo.
Voltou.
Praticou irresponsabilidades.
Ligou o rádio.
Mas só ouvia as batidas do coração.
Huuuuuuuuuuuuuuuuuuuummmmmmmmmmmmmmmmmmmmm????????
Como espantar esses romantismos tontos baratos?
Haverias de beijar a boca dos meus beijos?
Uma vez mais somente
próxima da insensatez dos dilúvios das irissonibilidades
Ontem
Hoje
E
Agora
Será sempre de madrugada?
Estremecem os órgãos apaixonados
Já sabia disso
Bastava aquela presença, mesmo à distância:
O estômago dava gritos
Os intestinos até serpenteavam bonitos
O fígado palpitava
O coração gemia
III.
Sentiu náuseas quando percebeu movimentos de
abandonar.
Nítida impressão do esvaziamento das veias.
Pensou: Quero que mije nas minhas mãos abertas.
Apenas para sentir aquela temperatura interna.
Se ficasse muda e quieta a lembrança do que fizeram apareceria como se fosse um filme?
Procurou então ficar imóvel debaixo das cobertas para
eliminar o frio condutor de abandonos. Levantou. Bebeu saquê na boca da
garrafa, aos goles, sorrindo e olhando seus gestos no espelho. Depois deitou
novamente e se fez de morta.
Ao mundo, Ao DE LÁ... Dar una vuolta infiniii?
Pensou: Ainda não fui tão longe.
Não notou quando ficou inquieta e gemia ao som.
Nem viu quando desadormeceu e até sorriu!
O volume das vozes do sonho aumentou: parecia uma festa.
Os sons das risadas se espalharam pelo quarto até acordar o dia.
Continuou a sorrir enquanto se espreguiçava.
Chamou alguém em voz alta.
E a nítida certeza de que ninguém fumava ao lado ou preparava um whisky.
Sussurrou um nome próprio para si mesma.
Precisava de calor. Sentia-se...
Adorava este ser que arrancava seus pudores assim sem ideologia, sem necessidade de ter,
Sem qualquer querer que submete.
Se não fosse aquela tristeza não saberia da saudade. Mentira.
Sabia inventar saudades vazias
completamente réstias
está nos olhos que me olham quando chamo o seu nome.
O Mar batia vigorosamente nas pedras de uma estranha sabedoria.
Outras incidências...
Ela gosta de autocrítica.
2.
O que fazer com as sobras que herdamos?
Já nos livramos de tantas fustigações... mas não...
Autocríticas literárias fustigam o desejo de inventar
seguir as estradas literárias de leves fragrâncias gráficas.
Jogar pedras nas palavras como se dissesse com a boca
cheia: AMÊNDOAS.
Estradas literárias escondidas nas florestas intocadas.
Somos quem? Um sersozinhozinho olhando o Sol onde se lê Rosa.
Se não há caminhos fique ligada nas veredas.
Óbvio.
Antigamente eram iguarias dos sentidos.
Dos pensamentos, então!
Olha! Olha! Olha!
3.
Todas as vezes que ela vê ou coloca exclamações lembra
invariavelmente de Ramos.
Sim! ele! mesmo! o gramático! escritor! Alagoano!
Tipos como ele têm a maior chance de se tornarem um Uberich idiolatrado. Ora, as pessoas gostam de se espantarem à toa. Disse mais ou menos isso. Ela disse sem sic, sem aspas. Confiou na sua memória intermitente como as lembranças de Neruda.
UAU(((
As exclamações todas perderam a ereção. Viraram raminhos de salsa debruçadas no canteiro. Restam as vírgulas. Porrrr..... e os pontos? Quase exclamava palavrão.
Mas na ora H exclam...ações se esgueiraram em vírgulas. Isso não significa obediência. Uberich foi criado para ser desobedecido. Mas inferniza. Queria exclamar corretamente, mas é muito indisciplinada. Na verdade queria mesmo era inventar erros geniais que depois são alçados ao cimo das montanhas entre os vales das virtudes.
Escutou um acordeon. Ou era uma sanfona? Foi arremessada imediatamente a Paris e no mesmo ímpeto caiu sorrindo no forró de Zé Lagoa. Cara, o critério para reconhecer uma obra de arte é feito de parâmetros inesperados. O conhecimento científico nos expulsou do paraíso. Ironia do destino: ele mesmo nos leva de volta.
Toda vez que ela viaja de avião se reconcilia com a ciência. Pensa até em estudar física. De Ícaro a Santos do Dumont, de Santos Dumont ao supersônico tínhamos que sonhar de ASA DELTA. Dédalo! Será que Kafka ouviu os conselhos que você deu ao seu filho? Sabe que ele também nos alertou? (Interrogação pode) através de uma parábola que diz que temos duas cordas atadas ao pescoço: uma presa à terra e outra presa ao céu. Se nos dirigirmos mais para o céu, a corda da terra nos estrangula e se pendermos mais para a terra, a corda celeste nos enforca. UBERICH!!!! Disse em voz alta: Será que quero mesmo me salvar? Prefiro brincar de pular cordas. Arre régua.
Escrevia cartas ao seu pai e ele escrevia cartas para ela. Seu pai não era UBERICH. Era um lugar de paz. Todas as vezes que ele chegava em casa ela não tinha mais medo de nada.
4.
Antes que a noite esbraveje em tremores lânguidos esse desassossego...
Quem mandou esse recado do ventre?
Palavras soltas sem elo sem volúpia sem retórica
Sem deixar
um mínimo ponto de conciliação com o juízo.
5.
Disse em voz alta:
Faço todas as obrigações que não devem ser feitas. Obrigações de outra ordem: faca na garganta.
Essa prosa tá louca. Lá lá lá lá lá. São muitas as alternâncias de mim em mim.
Quase acendi.
Trago?
Alguém conhece o beijo que se pensa melífluo?
Provoca o mesmo espanto
GRITO
Não precisava maiuscularizar as letras.
Não precisa gritar! Ouviu de uberchi.
Gestos opostos sorrateiramente deixam suavidades
interlineares.
Textura fria pintada de nada.
Estômago verve do sangue frevo placentário gesto
É o jeito mandar pros inferninhos rokistas essa inquietância que se chama Instante Inverso
III
Incidências em suma
E Tu?
“Meu, vem cá”.
Eita
tu
Saturno Diurno és cruel e ainda dormes
E cego
E sóbrio
Eternamente muito
Um drink quem me dera
Infâncias reencontradas
Em tangos fados e boleros
óperas e rocks
ieieiês ioioiôs
Se Arquimedes me visse!
Roçando o lume da paixão ao vento
Meus olhos somem na estrada
E nada explica o nascimento das flores e dos cogumelos ao
longo
Oh vasto caminho dessssscerto
Algumas léguas adiante e um açude se revela como surpresa
e não é que há crianças timbungando?
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