domingo, 2 de agosto de 2015

A versão de Numa para o Soberano Desprezo de Bráulio

BOLERO DO SOBERANO DESPREZO
                                                        Bráulio Tavares

O SOBERANO PRAZER DE UM BOLERO
                                                         Numa Ciro

Retrato de Sylvia Von Harden
Wilhelm Heinrich Otto Dix

Bráulio

Sabe o que é que você é para mim?
É uma ponta de cigarro
Apagada numa xícara de café de um botequim
Sabe o que é que você é para esse poeta?
É um velho velocípede
depois que a gente ganha a bicicleta









Numa

Lembro somente o que dizias dia e noite para mim:
"És o fósforo sagrado para o último cigarro
num lugar sem botequim".
Esqueces? quem disse que eu era 
no teu sonho consumista?
"O mais leve leptop, avião, mansão, iate,
diamante e ametista..."






Bráulio

Sabe o que é que você é para esse cara aqui?
É o para-quedas da FAB
Daqueles que nunca abre na horinha de abrir
Sabe o que é que você é para esse rapaz?
É a corda da viola que se quebra bem no meio

E ninguém emenda mais





Numa


Recordo três frases que dizias
na horinha de dormir:
1. És um clássico instrumento, afinado na beleza
com os dons de seduzir
2. Sempre que os meus olhos te alcançam eu enxergo o ideal
3. Pra te ver escalaria as mais íngremes montanhas
e o espaço sideral.








Bráulio

Sabe o que é que você é na minha canção?
É o telefone público que engole toda ficha

e não completa a ligação
Sabe o que que você é
no meu pensamento?
É a emoção de uma paquera
que na hora em que já era
degenera em casamento




Numa

Esqueces quem me telefonava pedindo intimidade?  
Corpo e alma, cama e mesa,
água quente na banheira, duchas de felicidade.
Vivias dizendo que eu era a tua louca inspiração,
que eu mudei a tua história, 
acendi as lamparinas do teu bruto coração 




Bráulio


Sabe o que é que você é para mim?
Uma viagem pra Roraima
num ônibus semi-leito da Itapemirim
Sabe o que é que você é meu amor?
É um dente doente
que se arranca de peixeira
pra parar de sentir dor.




Numa

Não mordo essa corda de machista,
não vou mais nessa viagem com alguém tal falso assim.
Tu! que até ontem me comias,
misturando à bebedeira tuas lágrimas por mim...
Cara! Cuspiste os nossos beijos antes do primeiro trago.
No delírio do ciúme, és o otário mais Otelo
no armário com Iago.















Nenhum comentário:

Postar um comentário