Foto de Cláudia Ferreira |
O HOMEM SOM
Um Poema para HERMETO PASCOAL
de Numa Ciro
I
Quando o vento
sopra na floresta,
a chuva chove no
telhado
e alguém lhe chama
do portão:
É hora de afinar
o seu ouvido
e adivinhar quem
está voltando
com notícias do
Sertão.
II
Quando um
passarinho canta livre,
a chuva chove na
roseira
e o trem apita
na estação:
É tempo de
entrar no tom preciso
e adivinhar quem
está tocando
as notas da
intuição.
III
Ouço um sussurro
na lembrança...
A saudade canta
e dança nos salões do
coração.
Lembrei agora do
pandeiro alagoano
e a sanfoninha
conversando:
Era eu e meu
irmão.
Até escuto o som
correndo pela veia.
Olha o dragão da
lua cheia:
Está dançando o
meu baião.
IV
Toco atrás da
onça e do perigo.
O som vem lá do
meu umbigo.
Eu toco a linha
do Equador.
Toco toco teclas, toco cordas
Toco sopro, toco
fole,
Toco tudo por
amor.
V
Toco a luz da
noite,
a luz do dia,
a luz que brilha
na bacia,
nos olhinhos de
uma rã.
Toco para o povo,
eu improviso:
Sei tocar a
esperança
ontem, hoje e
amanhã.
VI
Eu não dependo
de instrumentos pra compor.
Do fim do mundo ao
começo,
não esqueço meu
pai quando percebeu:
Eu era o filho
do som.
Eu soul!
VII
VII
Quando nasci vi
a luz musical.
Ainda vibra o
primeiro sopro
e aquele impacto
se prolongou
de tanto ouvir
meu avô.
VIII
VIII
Ferreiro ele era:
Batia nos
ferros;
as sobras, me
dava.
Eu toco. Sempre eu quero.
Com as sobras eu
fui o primeiro instrumentador
de um férreo
varal, tocador.
Mamãe descobriu
- Divina era ela -
O Bruxo do som ninava até as
feras.
Nas sombras
tocava um pífano que eu
mesmo fiz,
Para as aves
cantoras do céu.
Os sapinhos lá
no brejo ganhavam de mim
no melhor
desafio.
IX
X
IX
Lá na montanha o silêncio
sideral
Encanta o tempo
E o próprio vento espanta o medo
do vendaval.
A música é doida por mim.
É sim!
X
Ponho a orelha
no buraco do tatu:
Escuto a terra
cantando.
Esfrego as
folhas no ritmo do vegetal.
Eu tenho um avô
mineral.
XI - Refrão
Escute
a voz musical
Siga
a sua intuição
Criar
é dom pessoal
O
nome Hermeto
Pascoal,
o compositor
Sou
autodidata
O Mundo
é o meu professor
XII
Um
copo d’água, um motor, uma carroça,
uma
porta, não importa, tudo toca toca em mim.
Os
animais de pelo, pena, lã, escama,
Avoando
ou rastejando:
Todos
querem me ouvir.
XII
Alguém
falando para mim está cantando:
Velho,
moço e criança, qualquer homem ou mulher
Se toco o
surdo o surdo esquece que é mudo:
De
repente toca tudo.
E
só não toca quem não quer.
XX
Quando
eu nasci, chorei aflito.
Com
o meu cérebro magnético
Hermetoado
a musicar.
XI - Refrão
Ouça o silêncio do som
Eu
tinha pressa pra tocar.
O HOMEM SOM
O HOMEM SOM
O HOMEM SOM O HOMEM SOM O HOMEM SOM
O HOMEM SOM
O HOMEM SOM
O HOMEM SOM O HOMEM SOM O HOMEM SOM
O HOMEM SOM
O HOMEM SOM
O HOMEM SOM O HOMEM SOM O HOMEM SOM
O HOMEM SOM
O HOMEM SOM
O HOMEM SOM O HOMEM SOM O HOMEM SOM
Cantando com Hermeto Pascoal no Teatro Rival Hermeto me acompanhando com um berrante nossa parceria: A Feira Grande de Campina Grande |
Nenhum comentário:
Postar um comentário