terça-feira, 5 de abril de 2016

É ASSIM QUE EU ME APRESENTO




MEU NOME É NUMA CIRO

OU

AUTORRETRATO COM A CARA DO MUNDO




Hildebrando de Castro veste Numa Ciro enquanto ela canta 
na Performance 
NATUREZA VIVA
Técnica: Acrílica sobre Pele
Parque Lage
anos 90



Este Martelo Agalopado responde ao desafio 
Meu nome é Trupizupe 
de Bráulio Tavares


Pois não tinha serventia 
metáfora pura ou quase 
o povo é o melhor artífice no seu martelo galopado 
no crivo do impossível no vivo do inviável 
no crisol do incrível do seu galope martelado...

                                                      Galáxias – Haroldo de Campos





Vestida por Hildebrando de Castro: Acrílica sobre pele
Foto de Cláudia Ferreira
Museu Nacional de Belas Artes
Rio de Janeiro



Introito


Pra cantar desafio estou contigo
Oh poeta que sigo e admiro
Estatura não tenho, mais prefiro
Ser o anjo que afasta o inimigo
A morada do amor é meu abrigo
O desejo da rima é combinar
O sentido do mote está no ar
Quem pegar na palavra diz o seu
Quem pensar que eu não canto escute o meu
É com ele que vou me apresentar


Refrão

Meu nome é Numa Ciro
Sou a relva da Campina
Meu nome é Numa Ciro
A providência divina

Meu nome é Numa Ciro
Sou a relva da Campina
Meu nome é Numa Ciro
A providência divina


1
Sou o voo do desejo no horizonte
O riso da criança desejada
Lisboa, em Pessoa, visitada
A verdade beijou a minha fronte
Sou La Dolce Vita de uma fonte
A taça nas mãos do vencedor
O peito que acolhe o perdedor
A brisa da sorte na desdita
Sou a crença daquele que acredita
No projeto de paz de um sonhador...

2
Sou
A voz que atravessa a escuridão
A voz da minha mãe sempre a cantar
As vozes das cantigas de ninar 
A conversa que esquenta o coração
Sou boneca de pano de algodão
Imitou-me a rainha de Sabá
Do sermão eu soletro o bê-á-bá
Pelos meus belos olhos um império
Conquistou os recintos do mistério
Sem meu canto esse mundo o que será

3
Sou o susto da paixão inesperada
O beijo na bela adormecida
A valsa de Strauss em nossa vida
Quando o frevo revela a mascarada
Com a varinha de condão sou essa fada
Sou a mão que recebe o visitante
A casa que acolhe o habitante
E a certeza do pão de cada dia
Eu não posso viver sem harmonia
Sou Chiquinha  sou Gonzaga  sou Mutante

4
Madalena confessou o meu pecado
Fui o ócio da primeira vagabunda
Dos meus sonhos a beleza é oriunda
A história nasceu do meu passado
Meu destino pelo verso foi traçado
Fui o sopro de Deus na criação
Sou o Bumba-meu-boi do Maranhão
No cordel sou a rima das sextilhas
Alice no País das Maravilhas
E as sete cataratas do sertão

5
Sou o chinelo velho pro cansaço
A pausa no mundo que tem pressa
O carrinho na escada de Odessa
E a silhueta do velho Encouraçado
Sou a água que chove no roçado
E o sol que desponta na Sibéria
Utopia que acaba com a miséria
Sou a noiva no altar do casamento
A dor que caiu no esquecimento
E o remédio que mata bactéria 

6
Sou o dom de ler a mão de uma cigana
De Beethoven a nona sinfonia
Sou a noite que separa o dia-a-dia
E o domingo entre os dias da semana
Sou o fogo que alimenta a velha chama
A Natureza duradoura do amor
A violeta do olhar de Liz Taylor
Sou o fio que desmancha o labirinto
Eu só falo o que penso e o que sinto
Sou a boca carnuda de Bardot

7
Sou na Festa de Babette o apetite
Sou a bola na cesta do basquete
As coxas perfeitas da vedete
E a forma do belo em Afrodite
Sou a Nega Zefa  a Deusa Lilith
O raio de Iansã da Conceição
Vaidade aberta em leque do pavão
Sou as águas de março em abril
As cores da Aquarela do Brasil
Sou a força dos cabelos de Sansão

8
Só se fala atualmente em internete
Endereço eletrônico  navegar
Comunica quem aprende a sitiar
Uma bomba que não mata  mas impede
A conversa cara a cara sem confete
Pois eu acho esse caso muito sério
Manuscrito já perdeu o seu império
Sobre isso escrevi sem nostalgia
E pra não ter atraso de um dia
Eu mandei-o para Bráulio por e-méio


Meu nome é Numa Ciro
Sou a relva da Campina
Meu nome é Numa Ciro
A providência divina

Meu nome é Numa Ciro
Sou a relva da Campina
Meu nome é Numa Ciro
A providência divina


EPÍLOGO

Aprendi com minha avó, desde menina
A fazer da cantoria vocação
Assistindo  Retalhos do Sertão
Na rádio Borborema de Campina
Zé Limeira confirmou a minha sina
James Joyce com Homero foi casado
Guimarães Flor Lispector encantado
Eu não posso viver sem escritura
Se transforma em criador a criatura
Quando eu canto martelo agalopado

 


DISCO NUMA 

Produção musical:  Lan Lanh

A música do  Introito, do refrão e do epílogo são de domínio público.
A música das demais 8 estrofes são de Socorro Lira.

Percussão: Lan Lanh
Viola: Guto Menezes
Estúdios: LANHOUSE (Lan Lanh)
LAURA ALVIN (Técnico: Guilherme Toledo)
PLAYGROUND (Técnico: Junior Neves)
UMUARANA (Técnico:  Ricardo Calafate)






Numa Ciro 
Foto da série Giros d'Alma
de Walter Tochtrop
uma das fotos desta série virou cartaz para o dia 1 de dezembro 
DIA MUNDIAL CONTRA A AIDS













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