MEU NOME É NUMA CIRO
OU
AUTORRETRATO COM A CARA DO MUNDO
OU
AUTORRETRATO COM A CARA DO MUNDO
Hildebrando de Castro veste Numa Ciro enquanto ela canta
na Performance
NATUREZA VIVA
Técnica: Acrílica sobre Pele
Parque Lage
anos 90
anos 90
Este Martelo Agalopado responde ao desafio
Meu nome é Trupizupe
Meu nome é Trupizupe
de Bráulio Tavares
Pois não tinha serventia
metáfora pura
ou quase
o povo é o melhor artífice no seu martelo galopado
no crivo do impossível
no vivo do inviável
no crisol do incrível do seu galope martelado...
Pra cantar desafio estou contigo
Oh poeta que
sigo e admiro
Estatura não
tenho, mais prefiro
Ser o anjo que
afasta o inimigo
A morada do amor
é meu abrigo
O desejo da rima
é combinar
O sentido do
mote está no ar
Quem pegar na
palavra diz o seu
Quem pensar que
eu não canto escute o meu
É com ele que
vou me apresentar
Refrão
Meu nome é Numa Ciro
Sou a relva da Campina
Meu nome é Numa Ciro
A providência divina
Meu nome é Numa Ciro
Sou a relva da Campina
Meu nome é Numa Ciro
A providência divina
1
Sou o voo do
desejo no horizonte
O riso da
criança desejada
Lisboa, em
Pessoa, visitada
A verdade beijou
a minha fronte
Sou La Dolce
Vita de uma fonte
A taça nas mãos
do vencedor
O peito que
acolhe o perdedor
A brisa da sorte
na desdita
Sou a crença
daquele que acredita
No projeto de
paz de um sonhador...
2
Sou
A voz que
atravessa a escuridão
A voz da minha
mãe sempre a cantar
As vozes das
cantigas de ninar
A conversa que
esquenta o coração
Sou boneca de
pano de algodão
Imitou-me a
rainha de Sabá
Do sermão eu
soletro o bê-á-bá
Pelos meus belos
olhos um império
Conquistou os
recintos do mistério
Sem meu canto
esse mundo o que será
3
Sou o susto da
paixão inesperada
O beijo na bela
adormecida
A valsa de
Strauss em nossa vida
Quando o frevo
revela a mascarada
Com a varinha de
condão sou essa fada
Sou a mão que
recebe o visitante
A casa que
acolhe o habitante
E a certeza do
pão de cada dia
Eu não posso
viver sem harmonia
Sou
Chiquinha sou Gonzaga sou Mutante
4
Madalena
confessou o meu pecado
Fui o ócio da
primeira vagabunda
Dos meus sonhos
a beleza é oriunda
A história
nasceu do meu passado
Meu destino pelo
verso foi traçado
Fui o sopro de
Deus na criação
Sou o
Bumba-meu-boi do Maranhão
No cordel sou a
rima das sextilhas
Alice no País
das Maravilhas
E as sete
cataratas do sertão
5
Sou o chinelo
velho pro cansaço
A pausa no mundo
que tem pressa
O carrinho na
escada de Odessa
E a silhueta do
velho Encouraçado
Sou a água que
chove no roçado
E o sol que
desponta na Sibéria
Utopia que acaba
com a miséria
Sou a noiva no
altar do casamento
A dor que caiu
no esquecimento
E o remédio que
mata bactéria
6
Sou o dom de ler
a mão de uma cigana
De Beethoven a
nona sinfonia
Sou a noite que
separa o dia-a-dia
E o domingo
entre os dias da semana
Sou o fogo que
alimenta a velha chama
A Natureza
duradoura do amor
A violeta do olhar
de Liz Taylor
Sou o fio que
desmancha o labirinto
Eu só falo o que
penso e o que sinto
Sou a boca
carnuda de Bardot
7
Sou na Festa de
Babette o apetite
Sou a bola na
cesta do basquete
As coxas
perfeitas da vedete
E a forma do
belo em Afrodite
Sou a Nega
Zefa a Deusa Lilith
O raio de Iansã
da Conceição
Vaidade aberta
em leque do pavão
Sou as águas de
março em abril
As cores da
Aquarela do Brasil
Sou a força dos
cabelos de Sansão
8
Só se fala
atualmente em internete
Endereço
eletrônico navegar
Comunica quem
aprende a sitiar
Uma bomba que
não mata mas impede
A conversa cara
a cara sem confete
Pois eu acho
esse caso muito sério
Manuscrito já
perdeu o seu império
Sobre isso
escrevi sem nostalgia
E pra não ter
atraso de um dia
Eu mandei-o para
Bráulio por e-méio
Meu nome é Numa Ciro
Sou a relva da Campina
Meu nome é Numa Ciro
A providência divina
Meu nome é Numa Ciro
Sou a relva da Campina
Meu nome é Numa Ciro
A providência divina
EPÍLOGO
Aprendi com
minha avó, desde menina
A fazer da
cantoria vocação
Assistindo Retalhos
do Sertão
Na rádio
Borborema de Campina
Zé Limeira
confirmou a minha sina
James Joyce com
Homero foi casado
Guimarães Flor
Lispector encantado
Eu não posso viver sem escritura
Se transforma em criador a
criatura
Quando eu canto martelo agalopado
DISCO NUMA
Produção musical: Lan Lanh
A música das demais 8 estrofes são de Socorro Lira.
Percussão: Lan Lanh
Viola: Guto Menezes
Estúdios: LANHOUSE (Lan Lanh)
LAURA ALVIN (Técnico: Guilherme Toledo)
PLAYGROUND (Técnico: Junior Neves)
UMUARANA (Técnico: Ricardo Calafate)
Numa Ciro
Foto da série Giros d'Alma
de Walter Tochtrop uma das fotos desta série virou cartaz para o dia 1 de dezembro DIA MUNDIAL CONTRA A AIDS |
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